Geografia das Indústrias


Avaliação de Geografia da Indústria

1- Explique: “(...) o livre mercado, por si só, jamais poderia engendrar uma distribuição mais eqüitativa da atividade industrial no território.”

Assim como o livre mercado tende a concentrar o capital na mão de poucos empreendedores capitalistas, ele também tende a concentrar o capital num determinado ponto do espaço, onde obterá vantagens comparativas em função das chamadas economias de aglomeração; porém, a partir do momento em que a problemática urbana ultrapassa a problemática industrial, o fator aglomeração deixa de ser uma vantagem e passa a ser um entrave, um empecilho para o desenvolvimento da atividade industrial. Assim, deseconomias de aglomeração, tais como a violência urbana, a deterioração das condições de habitabilidade etc., apresentam-se como fatores inibidores da atratividade dos grandes centros urbanos. Isto não significa que uma melhor distribuição da atividade industrial sobre um determinado espaço se produzirá automaticamente após um momento de concentração. Somente através de políticas econômicas e do planejamento urbano-regional torna-se possível uma distribuição mais eqüitativa dessa atividade no território. Os exemplos clássicos dos Estados Unidos, da Itália e do Brasil provam também que tal lógica independe do fato de o país ser desenvolvido ou subdesenvolvido. Enfim, o mercado jamais poderia – ao contrário do que pensou Adam Smith – distribuir com sua “mão invisível” a riqueza engendrada no centro do sistema, tanto social quanto espacialmente.

Fonte: SOUZA, Marcelo Lopes de. Da “fragmentação do tecido sociopolítico-espacial” da metrópole à “desmetropolização relativa”: algumas facetas da urbanização brasileira nas décadas de 80 e 90. In.: SPÓSITO, M.E.B. (org.) Urbanização e Cidades: perspectivas geográficas. Presidente Prudente: [s.n.], 2001.
LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Trad. Sérgio Martins. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

2- Explique: “a concentração das atividades econômicas em determinadas áreas é um componente intrínseco do processo de desenvolvimento e que os mecanismos de mercado não promovem automaticamente a redução das desigualdades regionais de renda e a localização ótima dos recursos.”

Parte da explicação da presente afirmativa já fora realizada na explicação da afirmativa anterior. Cabe-nos aqui ressaltar a especificidade de tal concentração nos países subdesenvolvidos. Milton Santos conseguiu captar a essência da distribuição espacial das atividades econômicas nas cidades desses países. Em “L’espace partagé”, ele publicou pela primeira vez sua teoria sobre os dois circuitos da economia urbana. Vejamos algumas passagens que nos ajudam a descortinar a organização destes espaços:

Os espaços dos países subdesenvolvidos caracterizam-se primeiramente pelo fato de se organizarem e reorganizarem-se em função de interesses distantes e mais freqüentemente em escala mundial.(...)A cada modernização, novos pontos ou novas zonas são conquistadas ao espaço neutro e tornam-se uma nova porção do espaço operacional.“(p.20)
...o espaço dos países subdesenvolvidos é marcado pelas enormes diferenças de renda na sociedade, que se exprimem no nível regional, por uma tendência à hierarquização das atividades e, na escala do lugar, pela coexistência de atividades de mesma natureza, mas de níveis diferentes. Essas disparidades de renda são menos importantes nos países desenvolvidos e influenciam muito pouco o acesso a um grande número de bens e serviços. Ao contrário, nos países subdesenvolvidos, a possibilidade de consumo dos indivíduos varia muito. O nível de renda também é função da localização do indivíduo, o qual determina, por sua vez, a situação de cada um como produtor e consumidor.“ (p.21)
A existência de uma massa de pessoas com salários muito baixos ou vivendo de atividades ocasionais, ao lado de uma minoria com rendas muito elevadas, cria na sociedade urbana uma divisão entre aqueles que podem ter acesso de maneira permanente aos bens e serviços oferecidos e aqueles que, tendo as mesmas necessidades, não tem condições de satisfazê-las. Isso cria ao mesmo tempo diferenças quantitativas e qualitativas no consumo. Essas diferenças são a causa e o efeito da existência, ou seja, da criação ou da manutenção, nessas cidades, de dois circuitos de produção, distribuição e consumo dos bens e serviços. (...)
Um dos circuitos é o resultado direto da modernização tecnológica. Consiste nas atividades criadas em função dos progressos tecnológicos e das pessoas que se beneficiam deles. O outro é igualmente resultado da mesma modernização, mas um resultado indireto, que se dirige aos indivíduos que só se beneficiam parcialmente ou não se beneficiam dos progressos técnicos recentes e das atividades a eles ligadas.“ (p. 37-38)

Assim, Milton Santos denominou estes dois circuitos de moderno ou superior, e de inferior. Sua conclusão resume-se numa crítica ao modelo hexagonal de Walter Christaller, adaptando-o a partir a ótica dos dois circuitos.

As Regiões de Expansão no Sistema dos Lugares Centrais

Fonte: SANTOS, Milton. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. 2.ed. São Paulo: EDUSP, 2003.
CHRISTALLER, Walter. Die zentralen Orte in Süddeutschland: eine ökonomisch-geographische Untersuchung über die Gesetzmäßigkeit der Verbreitung und Entwicklung der Siedlungen mit städtischen Funktionen. Erlangen: wissenschaftliche Buchwissenschaft Darmstadt, 1968.

3- Defina:
-Greenfields

Os chamados greenfields ou “campos verdes” referem-se às áreas agrícolas distantes dos centros urbanos, não desenvolvidas, em boas condições, ou ainda áreas florestais, parques e estuários naturais.
VASQUES, Amanda Ramalho. Considerações sobre estudos de caso de Brownfields: exemplos no Brasil e no Mundo. REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES.
-Terceira Itália
A expressão “Terceira Itália” foi cunhada no final dos anos 80 para designar um novo modelo de desenvolvimento em algumas regiões da Itália, e que consiste na combinação de crescimento econômico, redução da pobreza e diminuição da desigualdade, centrado nas empresas de pequeno e médio porte, com um sistema cooperativo sem eliminar a competição entre as mesmas e com orientação para o mercado externo. Tal modelo emergiu como alternativa à dualidade clássica existente no processo de desenvolvimento socioeconômico italiano, isto é, ao noroeste altamente industrializado e desenvolvido, destacando-se aí as cidades de Milão e Turim, e o sul, agrário e subdesenvolvido. Para o economista Paolo Gurisatti, não existiria apenas uma “Terceira Itália”, senão várias. O exemplo clássico é o da região do Vêneto, porém chama a atenção para as regiões de Emiglia-Romana e Lombaria, embora destaque algumas diferenças entre estas.
Antonio Gramsci em “A questão meridional” ressalta os principais entraves do desenvolvimento da Itália meridional, destacando aí a importância da associação do proletariado – enquanto classe-vanguarda da transformação social – com o camponês na luta para o desenvolvimento nacional.

Fontes:Instituto Fernando Henrique Cardoso (www.ifhc.org.br)
GRAMSCI, Antonio. A questão meridional. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

4- No texto vários autores citados prognosticaram a interrupção de processos de desconcentração da atividade industrial. Que autores são esses e quais seus principais pressupostos teóricos?

Paulo Roberto Haddad - o autor defende que a atratividade das regiões depende da presença de centros de ensino e pesquisa, do mercado de trabalho profissional, da existência de relações industriais articuladas geograficamente, da facilidade de acesso e o “clima de negócios”, entre outros fatores de produção sofisticados. Por este motivo, o padrão espacial pouco se alteraria em vistas das já consolidadas regiões de aglomeração urbanas, que somente se estenderiam ainda mais, devido ao crescimento das atividades tecnológicas. A respeito dos setores dependentes de recursos naturais altamente localizados, estes não tenderiam a descentralização devido ao baixo potencial de diversificação produtiva que essa atividade oferece para as regiões receptoras.
Wilson Cano - defende que a modernização acelerada com novos setores tecnológicos sofisticados, a integração competitiva e o Mercosul, dariam prioridade ao crescimento das regiões mais desenvolvidas do país, ou seja, com elevado nível de auto-suficiência com a o Sul e Sudeste, acarretando uma reversão do processo de desconcentração ocorrido entre 1970 e 1985.
Leonardo Guimarães Neto – para o autor, o esgotamento da tendência de desconcentração foi provocado pela crise do Estado e pela desarticulação dos seus principais instrumentos de política econômica estatal como investimentos públicos, financiamentos da atividade produtiva e, incentivos fiscais.
Clélio Campolina Diniz – o autor desenvolveu a teoria do desenvolvimento poligonal (polígono definido pelos eixos “Belo Horizonte- Uberlândia-Londrina/Maringá-Porto Alegre-Florianópolis-São José dos Campos- Belo Horizonte”), onde a concentração se daria na região de intenso desenvolvimento e dinamismo urbano, com concentração de industrias de alta tecnologia, somadas com diversos fatores favoráveis a essa região, tais como o modelo de acumulação flexível, diminuição da intervenção estatal e a abertura comercial do país (Mercosul). Para o autor, a desconcentração industrial ocorrida entre 1970 e 1985 teria sido na verdade uma desconcentração concentrada, uma vez que grandes indústrias apenas se deslocaram para regiões ainda que próximas aos grandes centros urbanos industrializados, ampliando seu raio de influência, contendo neste polígono industrial o limite da desconcentração industrial brasileira que teve como fator determinante a redução dos custos de transportes, a presença dos principais eixos viários que interligam a metrópole paulista aos municípios de alto potencial econômico da região.
Carlos Américo Pacheco – o autor faz uma crítica às análises da desconcentração baseadas na lógica dos “novos requisitos locacionais”, portanto sua ótica é baseada nas mudanças dos paradigmas da Terceira Revolução Industrial que constitui o aspecto da globalização da economia, levando empresas multinacionais a traçarem estratégias de competição que envolve o planejamento de implantação das indústrias em áreas selecionadas de maneira segura em vista da competitividade do mercado mundial. Para o autor, este contexto atual globalizado, problematiza a continuidade do processo de desconcentração industrial brasileira, mas não a extingui de fato, e sim, torna-a mais lenta e pontual, já que o movimento de desconcentração são induzidos sobretudo pelo dinamismo de algumas áreas exportadoras com as pertencentes ao Mercosul.

5- Quais os argumentos apresentados por Luis Lopes Diniz Filho que corroboram para afirmar a continuidade da desconcentração?

Para Luis Lopes Diniz Filho, a desconcentração da indústria brasileira teve continuidade nas últimas décadas, favorecida pela abertura comercial dos anos de 1990 tendendo a prosseguir pelos próximos anos. Luiz Lopes enfatiza que os erros dos especialistas ao prever o esgotamento do processo de desconcentração se deve, principalmente, a importância conferida a um pequeno número de fatores que intervêm na dinâmica espacial industrial, sobretudo a crise do planejamento regional e as tendências de aglomeração associadas ao novo paradigma técnico e econômico construído. Para o autor, a distribuição espacial dos fatores de produção influencia as decisões locacionais das empresas de forma diferenciada, ou seja, a configuração territorial condiciona a concentração e desconcentração da economia. Por exemplo, as regiões que dispõem de fatores de produção mais sofisticados atraem as indústrias mais intensivas em capital e tecnologia, geralmente estas vem a se localizar em áreas mais urbanizadas e desenvolvidas, onde é possível encontrar mão de obra mais qualificada, infra-estrutura de pesquisa científica e tecnológicas maiores oportunidades de encadeamento com clientes e fornecedores, enquanto as regiões que apresentam fatores de produção banalizados recebem as indústrias mais intensivas em mão de obra e recursos naturais, mediante consideráveis formas de incentivos fiscais e outras formas de subsídio à produção. Noutras palavras Diniz explica que as indústrias de bens de capital e de bens de consumo durável, tendem a se dirigir para as cidades de porte médio localizadas no Sul e SE e para algumas metrópoles fora do eixo Rio - São Paulo, tais como Curitiba, Porto Alegre e Salvador. Já as industrias de bens de consumo não duráveis tendem a se desconcentrar conforme a dinâmica demográfica de cada região e a oferta de mão de obra barata, beneficiando assim os estados do Centro-Oeste e áreas como a Grande Fortaleza e a cidade de Sobral, no Ceará.
Quanto as industrias dependentes de matérias primas, como por exemplo da Industria Extrativa Mineral de Celulose na Bahia e a Indústria Petroquímica no Rio de Janeiro, estas tendem a se localizar nas proximidades da obtenção da matéria prima, não acarretando grande desconcentração deste setor da atividade industrial.

6- Por que o distrito industrial ganha destaque na combinação do sistema just in time com a “desintegração vertical”. Indicar bibliografia consultada.

A combinação do sistema just in time (novas técnicas de organização da produção) com a desintegração vertical (consiste na especialização das grandes empresas nas atividades essenciais para a competitividade, com recursos para a sub-contratação em larga escala como forma de criar uma rede de fornecedores especializados, geralmente compostas por empresas de pequenos e médios portes), favorece a migração de empresas para os “novos espaços industriais”. Com a criação de pólos industriais dinâmicos em regiões do tipo greenfield, localizados em áreas com boa qualidade de vida urbana, infra-estrutura de pesquisa científica e tecnológica (parcerias com universidades e empresas), menores níveis de salários e ausência de organização sindical, é favorecido a criação de uma economia de aglomeração, consolidando assim a concentração industrial na região, no então conhecido Distrito Industrial. Os Distritos Industriais são áreas receptoras das atividades de alta tecnologia e apresentam condições favoráveis ao paradigma da produção flexível, favorecendo a migração de empresas para estes novos espaços industriais que por sua vez, com a mobilidade espacial, a indústria tenderia a desaparecer com o tempo, já que a formação das redes verticais reforçaria a consolidação e concentração industrial nessas regiões.












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