A Agricultura Brasileira

A Agricultura Brasileira

O espaço agrário é dividido em glebas de terras, que seriam as propriedades rurais, e essas podem variar de tamanho, no Brasil existe a estrutura fundiária (forma como estão distribuídas as propriedades rurais conforme o tamanho).

Na configuração fundiária brasileira as propriedades rurais estão classificadas em:

Minifúndio: São pequenas propriedades rurais, inferior a 10 hectares.
Latifúndio: São grandes propriedades rurais, superior a 1000 hectares.

Concentração Fundiaria

 Causas da concentração fundiária no Brasil:
 1- Expropriação, ou seja, a perda da propriedade rural pelos pequenos agricultores que, endividados, acabam utilizando suas terras como pagamento de dívidas contraídas em bancos ou vendendo para empresas e grandes fazendeiros.
2- mecanização das lavouras que passaram a substituir a mão-de-obra.
3- Estatuto do Trabalhador Rural, de 1963, que estabeleceu os mesmos benefícios trabalhistas dos trabalhadores urbanos (salário mínimo, 13º salário, férias remuneradas entre outros).
As desigualdades na distribuição de terras é um problema extremamente polêmico, que apresenta constantemente a necessidade de reforma agrária.
Mas o que é reforma agrária? De maneira simplificada é a redistribuição mais justa da terra.


Entendendo o MST e a questão da Reforma Agrária


De 1822 até 1850 a posse da terra era livre.
Em 1850 foi criada a Lei das Terras, que manteve as sesmarias antigas (latifúndios) e reconheceu as posses (glebas de pequena propriedade) já existentes e determinou a compra da terra como única maneira de se obter terras.
IMPORTANTE: A Lei das Terras proibia os negros livres de terem acesso à terra e impedia que os imigrantes sem dinheiro a ocupassem também, obrigando-os a trabalhar como assalariado nas lavouras de café.
Muitos movimentos camponeses se organizaram em defesa de melhores oportunidades de acesso à terra. Na década de 1950 esses movimentos se tornaram mais fortes e organizados e defendiam a reforma agrária.
Revolução de 1964 os militares editam o Estatuto da Terra que privilegiou os latifundiários agroexportadores. Com isso:
Aumentou a miséria no campo e proporcionou a saída dos trabalhadores rurais.(êxodo rural).

O Estado ou Estatuto da Terra


O estatuto da terra é um conjunto de leis criado em novembro de 1964 para possibilitar a realização de um censo agropecuário. Para a sua realização, surgiu a necessidade de classificar os imóveis rurais por categorias.

Pra resolver a questão, foi criada uma unidade de medidas de imóveis rurais o módulo rural assim definida:
 “área explorável que, em determinada porção do país, direta e pessoalmente explorado por um conjunto familiar equivalente a quatro pessoas adultas, correspondendo a 1000 jornadas anuais, lhe absorva toda força e, conforme o tipo de exploração considerado, proporcione um rendimento capaz de assegurar-lhe a subsistência e o progresso social e econômico”.
Em outras palavras, módulo rural é a propriedade que deve proporcionar condições dignas de vida a uma família de quatro pessoas adultas. Assim, ele possui área de dimensão variável, levando em consideração basicamente três fatores que, ao aumentar o rendimento da produção e facilitar a comercialização, diminuem a área do modulo:

» Localização da propriedade: se o imóvel rural se localiza próximo a um grande centro urbano, terá uma área menor;

» Fertilidade do solo e clima da região: quanto mais propícias as condições naturais da região, menor a área do módulo;

» Tipo de produto cultivado: em uma região do país onde se cultiva, por exemplo, mandioca e se utilizam técnicas primitivas, o módulo rural deve ser maior que em uma região que produz morango com emprego de tecnologia moderna.

1984 foi fundado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
Com o fim do Regime militar 1985, foi criado o Plano Nacional de Reforma Agrária.

A Assembléia Constituinte de 1988 proibiu a desapropriação de terra produtivas.

Da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária

Artigo 184
Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
Artigo 185
São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Artigo 186
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Artigo 189
Os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos.

Embora a constituição tenha instrumentalizado o Estado com os recursos legais que permitam a realização da reforma agrária, na prática os assentamentos ocorriam em ritmo muito lento. Conflitos de terras entre proprietários e assentados ocorrem sistematicamente até os dias de hoje.

A Relação de trabalho no campo


Pequenos proprietários: Trabalhadores de base familiar, com pouca ou nenhuma utilização de tecnologias.
Parceria: é uma espécie de “sociedade” onde um entra com o trabalho e o outro cede parte de sua terra, o lucro é dividido conforme acordo pré-estabelecido.
Arrendatários: São produtores rurais que pagam para utilizar a terra, como se fosse um “aluguel” da terra, nesse período ele poderá utilizá-la na agricultura ou pecuária.
Assalariado Permanente: São trabalhadores rurais que recebem salários permanentes, são amparados por todos direitos trabalhistas estipulados nas leis brasileiras.
Assalariado temporário ou sazonal: São trabalhadores que recebem salários, mas o seu trabalho é realizado em apenas uma parte do ano, um exemplo disso são os períodos de colheita.

As relações de trabalho na zona rural


Trabalho familiar: Na agricultura brasileira, predomina a utilização de mão-de-obra familiar em pequenas e médias propriedades de agriculturas de subsistência ou jardinagem, espalhadas pelo país. Quando a agricultura praticada pela família é extensiva, todos os membros se vêem obrigados a complementar a renda como trabalhadores temporários ou bóias-frias em épocas de corte, colheita ou plantio nas grandes propriedades agroindustriais. Ás vezes, buscam subemprego até mesmo nas cidades, retornando ao campo apenas em épocas necessárias ou propícia ao trabalho na propriedade familiar.

Trabalho temporário: são trabalhadores diaristas, temporários e sem vinculo empregatício. Em outras palavras, recebem por dia segundo a sua produtividade. Eles têm serviço somente em determinadas épocas do ano e não possuem carteira de trabalho registrada. Embora completamente ilegal essa relação de trabalho continua existindo, em função da presença do “gato”, um empreiteiro que faz a intermediação entre fazendeiro e os trabalhadores. Por não ser empresário, o “gato” não tem obrigações trabalhistas, não precisa registrar os funcionários.

Em algumas regiões do Centro-Sul do país, sindicatos fortes e organizados passaram a fazer essa intermediação. Os bóias-frias agora recebem sua refeição no local  de trabalho, tem acesso a serviços de assistência médica e recebem salários maiores que os bóias-frias de região onde o movimento sindical é desarticulado.

Trabalho assalariado: representa apenas 10% da mão-de-obra agrícola. São trabalhadores que possuem registro em carteira, recebendo, portanto, pelo menos um salário mínimo por mês.

Parceria e arrendamento: parceiros e arrendatários “alugam” a terra de alguém para cultivar alimentos ou criar gado. Se o aluguel for pago em dinheiro, a situação á de arrendamento. Se o aluguel for pago com parte da produção, combinada entre as partes, a situação é de parceria.

Escravidão por divida: trata-se do aliciamento de mão-de-obra através de promessas mentirosa. Ao entrar na fazenda, o trabalhador é informado de que está endividado e, como seu salário nunca é suficiente para quitar a divida, fica aprisionado.

Nossa produção agropecuária


O Brasil se destaca no mercado mundial como exportador de alguns produtos agrícolas: café, açúcar, soja, suco de laranja. Entretanto, para abastecer o mercado interno de consumo, há a necessidade de importação de alguns produtos, com destaque para o trigo.

Ao longo da história do Brasil, a política agrícola tem dirigido maiores subsídios aos produtos agrícolas de exportação, cultivados nos grandes latifúndios, em detrimento da produção do mercado interno,. Porém, em 1995, houve uma inversão de rumos e os produtos que receberam os maiores incentivos foram o feijão, a mandioca e o milho.

A política agrícola tem como objetivos básicos o abastecimento do mercado interno, o fornecimento de matérias-primas para a indústria, e o ingresso de capitais através das exportações.

Também se pratica pecuária semi-extensiva em regiões de economia dinâmica oeste paulista, Triangulo Mineiro e Campanha Gaúcha, onde há seleção de raças e elevados índices de produtividade e rentabilidade. Nos cinturões verdes e nas bacias leiteiras, a criação de bovinos é praticada de forma intensiva, com boa qualidade dos rebanhos e alta produtividade de leite e carne. Nessa modalidade de criação, destacam-se o vale do Paraíba e o Sul de Minas Gerais. Já o centro-oeste de Santa Catarina apresenta grande concentração de frigorífico e se destaca na criação de aves e suínos em pequenas e médias propriedades, que fornecem a matéria-prima as empresas.

Merecem ser mencionados os seguintes produtos da agricultura comercial brasileira: 


- café: durante muito tempo, manteve-se circunscrito ao Paraná e a São Paulo, produzindo pelo regime de parceria. Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo conservam a dianteira da produção. Bahia e Rondônia surgiram como novas áreas produtoras, com uma particularidade: são cultivadas, principalmente, por paranaenses, antigos produtores do norte do Paraná. O Paraná tem aumentado em grande quantidade sua produção de café nos últimos anos, pela introdução de espécies novas (café adensado), desenvolvidas pelo IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná);
- soja: expandiu-se com maior vigor no país, durante os anos 70, notadamente nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul. Cultura típica de exportação, está cada vez mais voltada para o mercado interno em razão do crescente consumo de margarinas e óleos na alimentação do brasileiro. Atualmente, verifica-se sua expansão nas áreas do cerrado, sobretudo nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Bahia;
- cana-de-açúcar: apesar de ser cultivada no Brasil desde o século XVI, sua produção foi estimulada, a partir de 1975, com a criação do Proálcool. O Estado de São Paulo detém mais da metada da produção nacional, mas também é encontrada em Goiás, Paraná, Rio de Janeiro, além de estados nordestinos (Zona da Mata);
- laranja: produto largamente cultivado para atender à demanda da indústria de sucos, tem no estado de São Paulo seu principal produtor. Paraná e Minas Gerais estão se convertendo em novas e importantes áreas de produção. O Brasil é um grande exportador de suco concentrado, principalmente para os EUA;
- arroz: o Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional de arroz irrigado. Outros estados se destacam na produção dessa cultura alimentar básica: Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso, Maranhão, Goiás e São Paulo. 


Outros produtos de destaque são: o trigo, apesar de ser insuficiente para abastecer o mercado interno; o algodão, fortemente controlado pela indústria têxtil e de alimentos (óleo). O cacau, cultura ecológica, encontra-se em crise, notadamente na Bahia, seu maior produtor. 

Vale lembrar que muitos produtores do Sul, principalmente do Paraná e do Rio Grande do Sul, trocaram de território. Entre as principais causas, está o preço da terra. Com isso, muitos migraram para outros estados do país, tornando-se produtores de soja e café, principalmente. Outros transferiram-se para países vizinhos, como a Bolívia e o Paraguai. Como já foi dito, a questão da terra não é apenas nacional, ela já se transforma em uma questão transnacional.

Atividades Econômicas no Espaço Rural

UNIDADE 8: O ESPAÇO RURAL E A PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Atividades Econômicas no Espaço Rural


O meio rural compreende o espaço que não é urbano, portanto diferencia as suas atividades produtivas. Tradicionalmente as atividades rurais são basicamente:
Agricultura (cultivo de vegetais como: milho, arroz, feijão, trigo, soja, hortaliças, frutas e etc.)
Pecuária (Produção pastoril ou não, de bovinos, suínos, caprinos, ovinos etc.).
Embora haja atualmente outras atividades, principalmente no ramo turístico, hotéis fazenda, Spas, clínicas de recuperação entre outras, tem modificado a configuração da utilização do espaço agrário.

Hoje, no Brasil, a ocupação da terra na atividade agropecuária está dividida da seguinte forma:
·         71,1% terras ainda não aproveitadas economicamente,
·         21% pastagens
·         5,9% lavoura.

Tipos de Agricultura:

Agricultura familiar
Na agricultura familiar, o trabalho, a administração, as decisões sobre o que e como produzir e os investimentos são realizados pelos membros de uma família, sendo ou não eles proprietários da terra- muitas famílias produzem em terras arrendadas, empregando até mesmo mão-de-obra contratada.
Um tipo de agricultura familiar que prevalece nas regiões muito pobres é a agricultura de subsistência, voltada às necessidades imediatas de consumo alimentar dos próprios agricultores.
Por falta assistência técnica e de recursos, não há preocupação com a conservação do solo, utilizando sementes de qualidade inferior, não tem investimento em fertilidade e com isso a rentabilidade e produção são baixas.
Atualmente, o que prevalece é a agricultura familiar voltada para o comércio urbano: o agricultor e sua família cultivam algum produto que será vendido na cidade mais próxima, mas o dinheiro que recebem é suficiente apenas para a garantia da própria subsistência.
Outro tipo de agricultura familiar é a agricultura de jardinagem. Esta expressão tem origem no sudeste asiático onde há intensiva produção de arroz em planícies inundáveis, com a utilização intensiva de mão de obra. A grande diferença deste tipo de produção é que se obtem alta produtividade, investimentos em sementes de qualidade, aplicação da biotecnologia e técnicas de preservação do solo que permite a fixação das famílias por tempo indeterminado.

Agricultura patronal

Na agricultura patronal ou empresarial, prevalece a mão de obra contratada e desvinculada da família do administrador ou proprietário de terra. As grandes empresas são responsáveis pela administração agrícola em que predominam os complexos agroindustriais.

Características
·         Alto desenvolvimento tecnológico
·         Uso da biotecnologia e sementes transgênicas
·         Subsídios governamentais e políticas protecionistas
·         Alta concentração de terras

Este modelo de agricultura é muito comum na EU, EUA, Canadá, Austrália, Argentina e Brasil, principalmente em regiões onde se cultivam soja e laranja.

A REVOLUÇÃO VERDE


A expressão Revolução Verde foi criada em 1966, em uma conferência em Washington. Porém, o processo de modernização agrícola que desencadeou a Revolução Verde ocorreu no final da década de 1940. 
                     
Esse programa surgiu com o propósito de aumentar a produção agrícola através do desenvolvimento de pesquisas em sementes, fertilização do solo e utilização de máquinas no campo que aumentassem a produtividade. Isso se daria através do desenvolvimento de sementes adequadas para tipos específicos de solos e climas, adaptação do solo para o plantio e desenvolvimento de máquinas. 
As sementes modificadas e desenvolvidas nos laboratórios possuem alta resistência a diferentes tipos de pragas e doenças, seu plantio, aliado à utilização de agrotóxicos, fertilizantes, implementos agrícolas e máquinas, aumenta significativamente a produção agrícola. 
Esse programa foi financiado pelo grupo Rockefeller, sediado em Nova Iorque. Utilizando um discurso ideológico de aumentar a produção de alimentos para acabar com a fome no mundo, o grupo Rockefeller expandiu seu mercado consumidor, fortalecendo a corporação com vendas de verdadeiros pacotes de insumos agrícolas, principalmente para países em desenvolvimento como Índia, Brasil e México. 
De fato, houve um aumento considerável na produção de alimentos. No entanto, o problema da fome no mundo não foi solucionado, pois a produção dos alimentos nos países em desenvolvimento é destinada, principalmente, a países ricos industrializados, como Estados Unidos, Japão e Países da União Europeia. 
O processo de modernização no campo alterou a estrutura agrária. Pequenos produtores que não conseguiram se adaptar às novas técnicas de produção, não atingiram produtividade suficiente para se manter na atividade, consequentemente, muitos se endividaram devido a empréstimos bancários solicitados para a mecanização das atividades agrícolas, tendo como única forma de pagamento da dívida a venda da propriedade para outros produtores.
A Revolução Verde proporcionou tecnologias que atingem maior eficiência na produção agrícola, entretanto, vários problemas sociais não foram solucionados, como é o caso da fome mundial, além da expulsão do pequeno produtor de sua propriedade.

BIOTECNOLOGIA, TRANSGÊNICOS E AGRICULTURA ORGÂNICA


A biotecnologia compreende o desenvolvimento de técnicas voltadas à adaptação ou ao aprimoramento de características dos organismos animais e vegetais, visando ao aumento da produção. Há várias décadas, seu desenvolvimento vem proporcionando benefícios socioeconômicos e ambientais nas regiões agrícolas. A seleção de sementes, os enxertos realizados em plantas, o cruzamento induzido de diferentes animais de criação, a associação de culturas são algumas das técnicas agrícolas que fazem parte da biotecnologia. É possível cultivar plantas de clima temperado, como a soja, o trigo e a uva, em regiões de clima tropical; acelerar o ritmo de crescimento das plantas e a engorda dos animais; aumentar o teor de proteínas, vitaminas e sais minerais em algumas frutas, verduras, legumes e cereais; aumentar o intervalo de tempo entre o amadurecimento e a deterioração das frutas, entre outras inovações que beneficiam os produtores agrícolas, os comerciantes e os consumidores.
Em meados da década de 1990, porém, um ramo da biotecnologia, a pesquisa genômica, passou a lidar com um novo campo que gerou e continua gerando muita controvérsia: a produção de organismos geneticamente modificados (OGMs), os chamados transgênicos. No caso das plantas, estas se tornam resistentes à ação de pragas ou de herbicidas fabricados por grandes empresas multinacionais, o que leva o agricultor a utilizar somente uma marca de produto e a ficar totalmente dependente de uma única empresa. Outras modificações genéticas mais antigas, como o melhoramento das sementes ou o aumento na proporção de nutrientes dos alimentos, nunca chegaram a ser criticadas da mesma maneira.
Essa nova tecnologia possui vários aspectos positivos e negativos, o que têm gerado grandes polêmicas. Entre os positivos, podemos destacar a elevação nos índices de produtividade, a redução do uso de agrotóxicos e a conseqüente redução dos custos de produção e das agressões ambientais, além da criação de plantas resistentes a vírus, fungos e insetos, bem como variedades resistentes a secas e solos ácidos. Quanto aos aspectos negativos, aponta-se sobretudo a falta de conclusões confiáveis nos estudos dos possíveis impactos ambientais do seu cultivo em grande escala, além dos potenciais efeitos danosos à saúde humana. Outro aspecto duramente criticado é o monopólio no controle das sementes - por exemplo, a empresa Monsanto produz sementes de uma variedade de soja chamada Roundup Ready, cuja tradução é "preparada" ou "pronta para o Roundup", herbicida fabricado pela própria empresa.
Os Estados Unidos liberaram o cultivo e a comercialização de milho, soja, algodão e outras plantas transgênicas em meados da década de 1990, e cerca de um terço de sua atual produção de grãos utiliza essas sementes. Em 2001, um estudo da Organização Mundial de Saúde COMS) concluiu que os alimentos transgênicos aprovados para comercialização não fazem mal à saúde e contribuem para melhorar as condições ambientais ao reduzir, na maioria dos cultivos, o volume de pesticidas empregados na agricultura - essa posição passou a ser apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em maio de 2004. Argentina, Índia, China, Ucrânia, Canadá e outros países também liberaram seu cultivo e comercialização, mas a maior aceitação desses produtos no Brasil só se concretizou em 2003, quando o Reino Unido e outros países da União Européia divulgaram estudos comprovando a segurança ambiental e alimentar de algumas plantas transgênicas.
É importante ressaltar, entretanto, que não se pode generalizar esse tipo de estudo. O cultivo de plantas transgênicas é pesquisado e liberado caso a caso. Saber que atualmente o algodão ou o milho transgênicos não oferecem riscos ao meio ambiente e à saúde das pessoas não significa que outros tipos de OGMs sejam igualmente seguros. Além disso, técnicas de pesquisa mais refinadas, que estão em contínuo desenvolvimento, podem revelar, no futuro, que o que hoje se considera seguro na verdade não o é.
No Brasil, em 5 de janeiro de 1995, foi decretada a Lei de n. 8974, que "estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização no uso das técnicas de engenharia genética na construção, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, liberação e descarte de organismo geneticamente modificado (OGM), com o objetivo de proteger a vida e a saúde do homem, dos animais e das plantas, bem como o meio ambiente". O controle e a fiscalização dessa lei ficou a cargo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tec­nologia. Algumas de suas atribuições são: a implementação da Política Nacional de Biossegurança sobre os transgênicos, o esta­belecimento de normas técnicas de segurança e a emissão de pareceres sobre a proteção da saúde humana e do meio ambiente.
 Em contrapartida, vem crescendo bastante o número de agricultores e consumidores adeptos da agricultura orgânica, sistema de produção que não utiliza nenhum produto agroquímico - fer­tilizantes, inseticidas, herbicidas etc. nem geneticamente modificado. A adubação e o controle de pragas são realizados com matéria orgânica e controle biológico - uso de predadores naturais para controle de pragas. Há, também, grande preocupação em manter o equilíbrio ecológico dos solos, que são a base desse sistema: é o suporte para a fixação das raízes e sua fonte de nutrien­tes. Os agricultores que adotam a agricultura orgânica buscam, portanto, manter o equilíbrio do ambiente e de sua produção por meio da preservação dos recursos naturais.
Esse tipo de agricultura valoriza a manutenção de faixas de vegetação nativa, além da rotação e associação de culturas, e por isso envolve somente propriedades policultoras com suas vantagens inerentes: na grande maioria, a produção é obtida em pequenas propriedades fami­liares, aumentando a oferta de ocupação produtiva à população e tornando desnecessária a migração para as cidades.
No Brasil, como em muitos outros países, a produção de alimentos orgânicos é fiscalizada, e as embalagens são cer­tificadas para que o consumidor tenha confiança no produto e garantia de que não está ingerindo substâncias potencialmente daninhas. Em 2003, foi encaminhado um projeto de lei ao Senado Federal para regulamentar a fiscalização e a certi­ficação da agricultura orgânica no país.